quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Lixo

Ensinei-te a acreditar no amor
Tu ensinaste-me a acreditar
Na morte medicamente assitida

A minha mão na tinha cor
A tua era cor-de-rosa
Tão pirosa quanto garrida

Ensinei-te a sentir dor
Tu ensinaste-me vaguear
Por entre enfermarias sem vida

Nunca se fez nada pior
Nós os dois a em queda livre
Tão perigosa quanto aguerrida

Nós não valemos nada
Eu acho-me lixo
Tu achas-te lixo
Eu acho-te lixo
Tu achas-me lixo

Por achar que não mereço
Alguém melhor que tu
Por achares que não mereces
Alguém melhor que eu
Vamos renovar a nossa sombra
Ligando o lixo ao céu

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Puberdade

Apaixonei-me sempre. Fitava um rosto na minha mente, no qual pensava noite e dia. Um rosto real, quase sempre da colega cujo olhar fascinava mais. Exacto, ligava particularmente aos olhos, normalmente doces de quem nada sabe da vida e ao mesmo tempo dedicidos quem tudo pensa que sabe. Tentava não ser óbvio, e não me apaixonar pela mais cobiçada de todas os rapazes. Nunca eram muito altas e apresentavam um corpo definido na sua proporção. Dizia para mim mesmo amá-la, dizia para mim mesmo estar apaixonado, sem sequer contar a ninguém da minha paixão. Nenhuma palha mexia para roubar o seu amor. Pensava, escrevia poemas e canções, divagava... Ora bolas, precisava de uma inspiração. Mas é certo que lá no fundo estava-me pouco marinbando na sedução. Dispensava correr o risco de me desiludir ao ter alguma delas. A sua mente cheirava sempre a ranço. O ranço repetia-se sempre de umas para as outras. Difícil era não conseguir cheirá-lo. Além disso, reparava nos rapazes que as atraíam, nos rapazes que as faziam tremer, e pensava que algo em mim estaria demasiado errado se algum dia me assimilasse a tais personagens. Assim me mantinha, orgulhoso na minha distância, firme na minha cobardia. Não era feliz assim, mas era sempre preferível imaginá-las mulheres. Cortava dentro de mim a meta para a corrida hormonal que as fazia saltar da cama, para a cama.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Raiva

Nunca escrevo com raiva
Escrevo sim, a raiva
Nas alturas sem raiva
Para lembrar que a raiva
É ser um cão raivoso
Quando nem sequer a há

Não escrevas com raiva
Reinventa uma raiva erudita
Para velar pela tua escrita