quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Puberdade

Apaixonei-me sempre. Fitava um rosto na minha mente, no qual pensava noite e dia. Um rosto real, quase sempre da colega cujo olhar fascinava mais. Exacto, ligava particularmente aos olhos, normalmente doces de quem nada sabe da vida e ao mesmo tempo dedicidos quem tudo pensa que sabe. Tentava não ser óbvio, e não me apaixonar pela mais cobiçada de todas os rapazes. Nunca eram muito altas e apresentavam um corpo definido na sua proporção. Dizia para mim mesmo amá-la, dizia para mim mesmo estar apaixonado, sem sequer contar a ninguém da minha paixão. Nenhuma palha mexia para roubar o seu amor. Pensava, escrevia poemas e canções, divagava... Ora bolas, precisava de uma inspiração. Mas é certo que lá no fundo estava-me pouco marinbando na sedução. Dispensava correr o risco de me desiludir ao ter alguma delas. A sua mente cheirava sempre a ranço. O ranço repetia-se sempre de umas para as outras. Difícil era não conseguir cheirá-lo. Além disso, reparava nos rapazes que as atraíam, nos rapazes que as faziam tremer, e pensava que algo em mim estaria demasiado errado se algum dia me assimilasse a tais personagens. Assim me mantinha, orgulhoso na minha distância, firme na minha cobardia. Não era feliz assim, mas era sempre preferível imaginá-las mulheres. Cortava dentro de mim a meta para a corrida hormonal que as fazia saltar da cama, para a cama.